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A arte de viajar sózinho

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Até poderia parecer uma utopia, mas existem pessoas boas em todo o mundo. Era até provável que, nos países que levavam o rótulo de perigosos, venhamos a conhecer as pessoas mais hospitaleiras do mundo. Mesmo que seus pais ou amigos lhe chamem de maluco, e não apoiem seu projeto de viagem, vá em frente. Encare o desafio!. Porque maluco era quem não se dava a oportunidade de ganhar o mundo, quem nunca saia da sua zona de conforto, por receio do desconhecido. Maluco, era quem não  desafiava, quem não arriscava. E como tinha gente que se borrava de medo, de sair sozinho pelo mundo...

Viaje o quanto puder e o mais longe que conseguir. Quantas vezes for possível, porque a vida não era para ser vivida em um único lugar!.

Não tenha medo, porque que o mundo estaria à sua espera. Certamente, seria bem recebido em quase todos os lugares, faria novas amizades, sentiria na pele a hospitalidade desinteressada de pessoas estranhas. Conheceria o quanto era bom ser feliz longe de seu ninho. Aprenderia a se conhecer melhor. Certamente teria dias ruins, é certo, mas seriam muito poucos, com certeza. Até porque era melhor ter um dia ruim, numa montanha nepalesa ou numa praia filipina, do que trancado num escritório ou no seu solitário apê. Não era preciso coragem para viajar sozinho, apenas vontade... e um bom seguro de viagem!

As tralhas

Para fazer uma boa viagem, não era necessário levar muita coisa. E quanto maior for a bagagem, maior a tendência para levar coisas de que não precisaria. Por isso, compre uma mochila pequena, e evite a tentação de levar algo apenas porque poderia vir a precisar. E mesmo que em determinado momento da viagem, possa precisar de algo específico – um saco-cama zero graus ou uma roupa especial para fazer um trekking nos Annapurnas -, haverá sempre onde alugar ou comprar, e provavelmente mais barato do que no seu país de origem.

Se as t-shirts ficarem velhas e rotas, compre outras numa feira, ao preço de pechincha. Se o casaco polar ficar inutilizado, arranjará outro agasalho, sem problema. O calçado, a mesma coisa. Basta pensar que havia pessoas em todos os países, o que quer dizer que haveria sempre roupa à venda. E medicamentos. E comida. E tudo o que possa vir a precisar. Parece óbvio? E era. Mas a verdade era que não era fácil resistir à tentação de encher a mochila de coisas desnecessárias, just in case, e, com isso, carregar às costas peso em excesso. Não caia nesse erro!

Viaje tranquilo

Viajar com calma, era provavelmente o conselho mais precioso que se poderia dar a quem se iniciava nas viagens da vida. Resista à tentação de entrar no jogo dos carimbos, de querer visitar 10 países em um mês, ou algo parecido, de viajar para colecionar carimbos no Passaporte.

Viajar não era uma competição, um Rally, era uma experiência de vida. Verá que, se der oportunidade aos lugares, acontecerão coisas muito mais enriquecedoras do que viajando na correria. E ainda pouparia dinheiro com isso. Mais valeria conhecer bem um país, uma região ou uma aldeia, embrenhar-se na cultura e no quotidiano local, do que passar pela rasante uma meia dúzia de países. Crie a oportunidade para melhor viver os novos lugares, e não apenas vê-los, en passant! Isso só se conseguiria viajando com calma.

Quando lhe perguntarem quantos países já vistou, diga com orgulho que foram poucos.  Portanto, orgulhe-se de viajar devagar, e não sinta inveja dos colecionadores de carimbos. E tinha ainda um detalhe interessante: boa parte dos viajantes da vida, afirmavam categoricamente que conhecem determinados países ou lugares. Na verdade eles passaram por lá, mas não conheceram. Quando lhe perguntarem quantos países ou cidades conhece, diga simplesmente que visitou tais países e tais cidade  ou  lugares. Conhecer exigirá muito mais tempo, preferencialmente residir no lugar ou passar um bom período por lá. 

Quando se viaja por períodos de tempo mais longos, haveria a necessidade de fazer um pit stop de vez em quando. Para respirar. Para descansar um pouco e recuperar as energias. Não exagere na busca de ver todas as coisas todos os dias, o tempo todo. Haverá um momento em que sentirá falta de um relaxamento numa praia, num parque ou mesmo na salinha do Hostel ou do Hotel, até mesmo para ler um  livro.

Quando a viagem passava a ser uma rotina, mudando de lugar a cada três ou quatro dias, visitando monumentos, palácios, complexos arqueológicos, praças, ruelas e museus, sentirá a necessidade de não fazer nada. Era normal. Não sinta que estaria desperdiçando tempo – isso não era verdade. Estaria apenas quebrando a rotina e descansando. Praticamente o mesmo que faria na sua casa,  no dia a dia de trabalho.

Começar uma conversa com estranhos, não era um ato normal. Não dizemos bom dia, às pessoas que viajavam no mesmo avião, no trem ou no Metrô a caminho da escola ou do emprego, nem temos por hábito começar a falar com os vizinhos da mesa ao lado num café ou restaurante.

Para muita gente, aliás, a timidez, era uma barreira aparentemente intransponível. Eram pessoas até muito sociáveis se alguém der o primeiro passo, mas que ficavam na sombra se ninguém quebrasse o gêlo. Pensamos que era preciso coragem, para falar com estranhos, e esse era precisamente o desafio da viagem: não tenha medo de falar com outros viajantes, nos hostels, de cumprimentar os empregados do café, de falar com quem estava ao seu lado na condução. Teria muito a ganhar com essa sua atitude. Iria enriquecer o seu viver e aumentar o seu conhecimento sobre povos, cidades e países. 

E, se algum dia se sentir farto de conversa de mochileiro, converse com os habitantes locais. Porque o mais provável, era que as melhores experiências de viagem nascessem desses encontros fortuitos. Porque um olá, poderia mudar a sua viagem – e a sua vida – para sempre. E se o convidarem para fazer alguma coisa, não desperdice a oportunidade, aceite. Coragem!

Não era preciso ser rico para viajar. Poupe dinheiro, controle o seu orçamento, mas não deixe de fazer as coisas, ou visitar lugares únicos, apenas porque era preciso pagar. Se não tiver dinheiro suficiente, adie a viagem por uns meses, faça um trabalho extra para juntar mais alguns trocados. Certa vez, em Florença, uma senhora advogada, natural de Goiânia, fazia parte de meu grupo de turistas. Ela se recusara a visitar o Museu do Duomo, porque teria que pagar o ingresso. Quando lhe disse que alí ela encontraria a estátua original do Davi, de Michelangelo, ela perguntou; quem era esse tal de Michelangelo ?" 

Escolha destinos compatíveis com o seu orçamento, e quando estiver circulando pela Sudeste Asiático, não deixe de visitar Angkor Watt, em Siem Reap, no Cambodja, apenas porque o Passe de 3 dias custaria 100 dólares; não deixe de visitar um museu que queria muito conhecer só porque a entrada não era gratuita; e não deixe de comer esporadicamente num restaurante melhor porque gastaria 20€ em vez de 5€. Em viagem, comer bem ou dormir num hotel melhorzinho, de vez em quando, eram pequenos luxos que o seu corpo e alma agradeceriam. Porque era importante estar bem, feliz, motivado.

No fundo, selecione com critério onde irái gastar o seu dinheiro, mas não deixe de aproveitar bem a viagem. Resista à tentação de pensar que um dia vai voltar, e fazer tudo o que deixou por fazer, porque o mais provável,  era que, na maioria dos lugares por onde passar, isso nunca venha a acontecer. E não fique ciumento, quando alguém lhe disser que só gastava 10 a 15 dólares por dia, dormia em tendas e cozinhava a própria refeição, ou comia sandubas todos os dias.

Seja consciente na forma como gastar o seu orçamento – negocie os preços, não se deixe enganar, evite os restaurantes, lojas e cafés junto aos locais mais turísticos – mas não seja o mais morrinha dos viajantes. Depois de duas semanas em Albergues, durma num quarto privado, confortável e com um bom banho. Depois de dias a fio movido a sanduíches ou comidinhas de street food, entre num restaurante convencional e mande ver. Depois de muito tempo evitando sair à noite para não gastar, vá beber uma cerveja com alguém, num bar ou discoteca. Se não tiver esse alguém, saia assim mesmo porque certamente, lá encontrará alguém interessante. Controle o orçamento, mas não se maltrate. Para que a sua experiência de viagem seja ainda mais memorável. Ou, como se diz numa publicidade, porque eu mereço!

Era importante planejar, quanto mais não seja para não cumprir o plano de viagem. Dava um certo conforto mental saber que planejar a viagem, era um dos grandes prazeres antes de partir. Uma vez na estrada, use os Guias de Viagem, com moderação – eram úteis, por exemplo, para estudar os mapas à chegada a uma nova cidade e saber para onde ir, evitando dar o ar de turista perdido. Não cometa o erro de só ir almoçar nos restaurantes referenciados, de só visitar o que aparecia no Guia, de só dormir num hostel, se aparecer no Lonely Planet. Em vez disso, ouça os conselhos de outros viajantes, dos habitantes locais, dos funcionários do hotel. Porque era muito provável que suas sugestões sejam melhores e mais atuais, do que o que estaria escrito no Guide de Turismo.

Se preferir viajar acompanhado, escolha alguém com quem se imagine a compartilhar as 24 horas de um dia, todos os dias, durante um bom tempo. Mas, se esse alguém não aparecer, não desista da sua viagem. Vá! Não deixe de ser feliz por falta de companhia. Até porque, era muito provável que a sua experiência seja ainda mais rica e interessante por estar só. Ganhará um autoconhecimento, com que nunca sonhou; vai amadurecer e vai fazer muitos mais amigos do que se viajasse acompanhado.

E se dê a oportunidade de explorar um país, uma cidade, um lugarejo, ao sabor dos seus instintos; sem ser condicionado por um Guia de Viagem. Não leve à sério tudo o que outros escreveram – nós aqui do Viajandei.com, incluídos –, como sendo a única possibilidade, o único itinerário a ser considerado.

Bon voyage!

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